Hoje não há desculpas, vou mesmo à aula de danças de carácter.
Andou com preguiça, a Alfacinha. Um dia era o trabalho, outro dia era o pingo no nariz, qualquer coisa a impedia sempre de fazer a sua primeira aula de carácter. Primeira desde a última vez, já há uns bons seis anos. A Alfacinha era fã destas danças tradicionais da Europa central. De punhos nas ancas e nariz empinado, a Alfacinha adorava avançar com ar decidido e bater com os calcanhares. Grandes recordações, de tempos remotos de bailarina…
E foram essas óptimas recordações que a levaram à dita aula de carácter.
- Trouxe alguma roupa para fazer a aula?
- Não…
- Não faz mal, faz assim mesmo. Levante as calças e pode ir para a barra, vamos começar o aquecimento.
E voltaram todas aquelas palavras, lembranças já bem empoeiradas. Rond de jambe, battement, dégagé, todas as posições de pés, de braços… tudo se foi desenterrando, voltando à memória da Alfacinha.
Só que a coisa começou-se a complicar: pernas no ar, estica daqui, puxa dali, maldita camisola de lã, gola alta, manga comprida, flecte o pé, afasta o joelho com o cotovelo, faz força menina, braços a enrolar as pernas, aperta bem, oh diabo no qu’é qu’eu me meti, agora em meia-ponta, levanta os braços, fica direita, aperta os glúteos, celulite, melhor dizendo, levanta uma perna, estica, que tal levantar a outra perna também, não?, levanta mais, só isso?, mais um bocadinho e fico sem tendões amiga, braços na barra, faz um ângulo recto entre as pernas e o tronco, espetar o rabo a bem dizer, vou-te carregar aqui nas costas para esticar bem… e aquele som das costas a estalar... e era só o aquecimento!
Mais corada que um tomate e com as pernas a tremer que nem varas verdes, a Alfacinha lá conseguiu sobreviver à barra, amanhã ao acordar é que se vão ver os estragos… Seguiram-se as danças propriamente ditas. A Alfacinha foi então desenterrando da sua memória corporal movimentos, posições e gestos que noutros tempos foram automáticos. Reencontrou também o prazer das danças de carácter e o carácter qui va avec.
No fim, já sem fôlego, a Alfacinha sentia-se um boneco Michelin numa aula de ballet. Saiu com as pernas cambaleantes, saiu atordoada, em vez de abrir a porta para as escadas abriu a do balneário masculino, também já não podia corar mais.
Regressou a casa a pensar na fatiota que vai ter de arranjar.
Quem diria que me ia vestir de bailarina outra vez!
Andou com preguiça, a Alfacinha. Um dia era o trabalho, outro dia era o pingo no nariz, qualquer coisa a impedia sempre de fazer a sua primeira aula de carácter. Primeira desde a última vez, já há uns bons seis anos. A Alfacinha era fã destas danças tradicionais da Europa central. De punhos nas ancas e nariz empinado, a Alfacinha adorava avançar com ar decidido e bater com os calcanhares. Grandes recordações, de tempos remotos de bailarina…
E foram essas óptimas recordações que a levaram à dita aula de carácter.
- Trouxe alguma roupa para fazer a aula?
- Não…
- Não faz mal, faz assim mesmo. Levante as calças e pode ir para a barra, vamos começar o aquecimento.
E voltaram todas aquelas palavras, lembranças já bem empoeiradas. Rond de jambe, battement, dégagé, todas as posições de pés, de braços… tudo se foi desenterrando, voltando à memória da Alfacinha.
Só que a coisa começou-se a complicar: pernas no ar, estica daqui, puxa dali, maldita camisola de lã, gola alta, manga comprida, flecte o pé, afasta o joelho com o cotovelo, faz força menina, braços a enrolar as pernas, aperta bem, oh diabo no qu’é qu’eu me meti, agora em meia-ponta, levanta os braços, fica direita, aperta os glúteos, celulite, melhor dizendo, levanta uma perna, estica, que tal levantar a outra perna também, não?, levanta mais, só isso?, mais um bocadinho e fico sem tendões amiga, braços na barra, faz um ângulo recto entre as pernas e o tronco, espetar o rabo a bem dizer, vou-te carregar aqui nas costas para esticar bem… e aquele som das costas a estalar... e era só o aquecimento!
Mais corada que um tomate e com as pernas a tremer que nem varas verdes, a Alfacinha lá conseguiu sobreviver à barra, amanhã ao acordar é que se vão ver os estragos… Seguiram-se as danças propriamente ditas. A Alfacinha foi então desenterrando da sua memória corporal movimentos, posições e gestos que noutros tempos foram automáticos. Reencontrou também o prazer das danças de carácter e o carácter qui va avec.
No fim, já sem fôlego, a Alfacinha sentia-se um boneco Michelin numa aula de ballet. Saiu com as pernas cambaleantes, saiu atordoada, em vez de abrir a porta para as escadas abriu a do balneário masculino, também já não podia corar mais.
Regressou a casa a pensar na fatiota que vai ter de arranjar.
Quem diria que me ia vestir de bailarina outra vez!
O que é:
O que será (há que ser optimista!):
www.balletstudio.com.au/national_character.php
E aqui, a dança que a Alfacinha mais gostou e da qual ainda se lembra, com muita saudade...