domingo, 27 de setembro de 2009

Alfacinha écolière

Começa um novo ano escolar para a Alfacinha. Mais um Setembro de projectos, de calendários, de olá-eu-sou-a-Mariana-e-tu-como-te-chamas, de professores novos, de salas novas. Mais uma rentrée.

E como em toda a rentrée, há a corrida ao material escolar. Ainda sonha a Alfacinha, ao ver as mochilas do Mickey, os estojos da Minnie; ao ver os cadernos novinhos e bem cheirosos, os dossiers que ainda rangem ao abrir; ao ver os lápis compridos, as canetas florescentes e perfumadas, as borrachas branquinhas. Uma profusão de instrumentos, que tem de ser bem analisada, em função das necessidades que se adivinham.
Este ano preciso de uma trousse onde se possam ver todos os stylos, porque a maîtresse vai muito depressa, e se eu precisar de mudar de stylo a meio da dictée depois não consigo. E preciso de um taille-crayons, que o meu do ano passado é muito grande, depois não cabe na trousse. Preciso de um classeur, com seis intercalaires, e pochettes en plastique. E preciso também de onglets. E também de dois cahiers grand format seyès. E folhas seyès grands carreaux. E será que este ano já posso ter um stylo plume e um effaceur…?
Suspiro.

Agora que vai envelhecendo, ai ai mestranda…, a Alfacinha só se vira para uma categoria de material escolar: as agendas. E já que é a única categoria, leva-a a sério. Torna-se um prazer passear pelas papelarias à procura da mais bonita e mais funcional agenda. Fica horas a folheá-las, a ver as capas, a disposição dos dias na página, as folhas suplementares (mapas, endereços, conversões métricas…), a pesá-las, a estudar as formas e a imaginá-las no bolso da frente do lado direito do seu saco, será que ficas lá bem?
A Alfacinha adora cheirar agendas, passar a mão pelas páginas macias, e sobretudo rasgá-las pelo picotado no cantinho inferior direito quando passa o dia, crrrrash… Assim vai controlando a passagem do tempo, avaliando a proporção de páginas rasgadas e de páginas por rasgar. Adora preencher a capa com a sua mais redondinha letra, escrever o nome, a morada, o e-mail e o grupo sanguíneo…

A Alfacinha encontra-se actualmente no segundo patamar da carreira no que toca a agendas.
Começa-se primeiro com as que têm um dia por página, quando os devoirs são muitos e se preenchem as folhas até ao fim, Pour jeudi: faire les exos 3,4,5 de mathématiques p.35, lire la leçon p.37 et faire signer le carnet de liaison. É a época em que as agendas se enchem de anúncios coloridos de aniversários, de mensagens e desenhos de amigos, de comentários sobre os professores, de grandes letras a anunciar Vacances, de emplois du temps desenhados com carinho.
O segundo patamar é quando as agendas já podem ter vários dias por página, e até já podem ser mais pequeninas. O prazer de rasgar o cantinho da página pelo picotado torna-se então menos frequente, infelizmente. Agora já só se marcam os compromissos especiais: aniversários ainda mas já não coloridos, grandes letras a anunciar Vacances ainda, mas também idas ao médico, idas aos impostos, idas à secretaria, idas ao CROUS, mas também festas, viagens, teatros e cinemas.
O terceiro patamar será quando a agenda deixar de começar em Setembro para começar em Janeiro… Continuarão as Vacances em letras grandes, os aniversários já não coloridos, o médico, os impostos, as festas, as viagens, os teatros e os cinemas. Só que deixará de haver secretarias, CROUS e exames.

Aqui está então a feliz contemplada para o presente ano escolar, fininha, estreitinha, uma semana em duas páginas, feriados nos países da União Europeia, tabela de conversões (medida, área, volume, massa), calendário de 2009, 2010 e 2011 e 20 páginas para apontamentos. Tem também uma fitinha azul que permite marcar uma página. E uma magnífica girafa azul na capa. É linda a minha agenda.


domingo, 13 de setembro de 2009

Caiu a ficha.

Menina amanhã de manhã
Quando a gente acordar
Quero te dizer
Que você é...
É uma mestranda, é
É uma mestranda, é
É uma mestranda...

Na hora ninguém escapa
Durante a chamada, niguém se esconde
O mestrado vai...
Desabar sobre os mestrandos, vai
Desabar sobre os mestrandos, vai
Desabar sobre os mestrandos...

Menina, ele mete medo
Menina, ele fecha a graduação
Menina, não tem saída,
De cima, de banda ou de lado
Menina olhe pra frente
Oh! Menina tome cuidado
Não queira dormir no ponto
Segure o jogo, atenção!
De manhã...

Menina a felicidade
É cheia de praça
É cheia de traça
É cheia de lata
É cheia de graça

Menina a felicidade
É cheia de pano
É cheia de peno
É cheia de sino
É cheia de sono

Menina a felicidade
É cheia de ano
É cheia de eno
É cheia de hino
É cheia de ono

Menina a felicidade
É cheia de an
É cheia de en
É cheia de in
É cheia de on
Menina a felicidade
É cheia de a
É cheia de é
É cheia de i
É cheia de ó

Menina amanhã de manhã...


(adaptação da canção Menina amanhã de manhã)
CLICAR AQUI PARA OUVIR A MUSICA, cantada por Mônica Salmaso.
Vale muito muito a pena.

Reconciliação

Depois de uma curta estadia em Lisboa, a Alfacinha volta a Paris. No aeroporto, de um lado uma fila para Paris, do outro uma para Brasília e nos altifalantes última chamada para Natal. Sem grandes escolhas a fazer, a Alfacinha embarca, num reboliço de gente, de problemas técnicos e de excesso de bagagem.

Na chegada a Paris, um céu cinzento, habitual, quase noite às três da tarde. A Alfacinha começa a sentir o bronzeado desaparecer, deixa a sua pele de “negona” para voltar à sua cor de leite parisiense.

Volta a Paris, volta a ver francesinhas de cabelinho curtinho, de caniche nos braços, a impingir as suas teorias às outras pessoas do ônibus, quer dizer do autocarro, do bus. Volta a ver uma grande frequência de olhos azuis, de cabelos louros. Volta a ver sandálias ortopédicas com a sexy meia branca a aparecer no dedão.

Só que a loja que antes era uma ourivesaria agora é uma loja dos 300, e expõe o caixote de lixo dos meus sonhos, com compartimentos de separação! A loja ecológico-natural agora vende roupa ecológico-natural, vai ser a minha perdição, sempre uma pequena desaceleração na marcha para dar uma olhadela na montra… O senhor dos kebabs, esse, continua o mesmo, “Bonjour mademoiselle!”, com um sorriso.

Volta à sua casinha a Alfacinha, com três meses de correio nas mãos e com a dita excessiva bagagem. Logo à entrada, um cheiro diferente, deixado pelos recentes ocupantes da casa, seus amigos. Pertences deixados pela sala, pelo quarto, enquanto estão de férias e não têm alojamento em Paris, estava combinado. De entre esses pertences, vê livros, dossiers, roupa, objectos electrónicos e coisas mais originais como uma radiografia da bacia de um outro colega que por aqui não estava previsto passar. Encontra, caído no chão, um íman, festejando o segundo aniversário de uma menina, com uma fotografia à três quartos, a preto e branco, da dita donzela. E a melhor de todas: quando abre o frigorífico, vê oito garrafas de cerveja e… um frasco de alcaparras.

Para voltar a conquistar o seu espaço sintoniza a TSF Jazz e para retomar o gosto pela vida parisiense, nada melhor do que um passeio ao mercado domingueiro em frente a casa.

Passa na fruta colorida... “Vá-la senhoras e senhores, para rematar, olha o bonito alho francês!”.


Passa no peixe... “Não tire só fotografias aos linguados! Tire também aos vendedores!”.


Passa nos portugueses... e vê uma feliz confraternização de pastéis de Belém, Guaraná e Super Bock.


Passa no padeiro, não pode deixar de salivar ao ver os macarrons... “Bonjour mademoiselle, não quer um pãozinho destes, que tal este de figos e uvas passas, ou este de Emmental?”. E lá cede a Alfacinha.


Passa nos queijos, na choucroute, no talhante e no libanês... e de cada vez respira o perfume.



Passa nas flores…

“Bonjour mademoiselle, olhe as margaridas como estão bonitas!

- Está bem, vou levar um ramo, das brancas.

- Quer que embrulhe para presente?

- Não… não é preciso…

- Ah, está bem… Pois faz muito bem em comprar flores, para ter uma casa linda! E vão-lhe durar dez dias. Olhe, até lhe vou cortar estas folhas, aqui em baixo. Sou simpático, não sou?”