sábado, 31 de março de 2007

«Porque é que o Nuno já viu as fotografias e eu não??» (Setembro 2006)

Pois é, Tia Margarida, tem toda a razão. E é por causa desta frase que aqui se abre esta página. (E desculpa lá, Nuno, de te tirar o privilégio!)

Abrir páginas, virar páginas, eis aquilo que significaram estes seis meses para mim. Uma nova vida, totalmente nova que vou conquistando.

Habituar-me a adormecer e acordar numa casinha vazia, pôr dois despertadores com receio de uma falha tecnológica, sair de casa e dar uma, duas voltas à chave, aventurar-me pela rua fora, enrolada em várias camadas de tecidos para evitar hipotermias, a cantarolar (que frio que faz em França, que frio que faz em França…) e ir para Saint-André des Arts todos os dias, todos os dias atravessar o Boulevard Saint-Germain. Fazer meu um bairro. O Bairro, que ainda há um ano era mais sonho, mais utopia, um «não-lugar», lugar impossível, irreal. O Bairro onde passeava com suspiros de inveja, suspiros de «ai-qu’eu-gostava-tanto-de-vir-p’aqui»… O Bairro onde agora estudo, o Bairro de que me vou apropriando, pouco a pouco, sempre com o mesmo encanto. O Bairro que também me vai moldando, ao ponto de às vezes não saber em que língua estou a pensar, ao ponto de dizer coisas esquisitas e inquietantes como «montar escadas»… E ao fim do dia deixá-lo (Como é possível que eu esteja meeeesmo aqui…?), voltar para casa, dar uma, duas voltas à chave (Não está cá ninguém! Ah pois, é normal), entrar e ver que tudo está como deixei, (ninguém cá entra, só eu, é a minha casinha), correr acender os aquecedores, tentar pôr um pouco de vida no espaço, experimentar um som, ver se faz eco, ver se há resposta. Nada, silêncio. Paciência.

E dia após dia vou-me habituando. Dia após dia vou-me convencendo de que me sinto bem, de que gosto de Paris, de que gosto do que faço.

E vejo isso de cada vez que me acontece uma daquelas situações insólitas, de cada vez que me sinto embebida da cidade e que só tenho vontade de sorrir e respirar fundo. São estas coisas que dão um condimento ao dia: um mutilado da Segunda Guerra que me chama de «mon amour», uma filósofa coscuvilheira na lavandaria, uma orquestra de palhaços à beira do Sena, uma fanfarra no Marais, um bolo de chocolate no Luxembourg, horas a ver um malabarista em frente à Notre-Dame, um acordeão numa esquina do metro, um arco íris na minha janela com uma ameaça de neve, andar depressa sozinha no meio do frio e da multidão, ou voltar para casa à noite, sozinha, ouvindo o som dos passos na rua, fazendo nuvens de ar branco ao respirar, com um olho nas janelas onde uma luz deixa ver o interior das casas...

E de semana em semana vou-me fazendo mais dona da minha vida, mais dona do meu tempo, mais dona de mim.

Citando a mãe que me citava a mim, em pequenina: «Como se faz? Fazendo!».

E assim, abro esta página, na qual abro a porta da minha casa. Aqui está uma visita guiada completa, comentada, para responder aos vários pedidos que recebi (e espero que saia melhor que a encomenda!). Claro que uma visita virtual é sempre inferior a uma visita presencial. Chego então à segunda razão de ser desta página: é também um convite a todos os que ainda não vieram cá. Aqui verão certos e determinados ângulos do apartamento. Parecer-vos-á até bastante espaçoso, mas é ilusão: foi com a falta de recuo para muitas fotografias que me dei realmente conta de quão pequeno ele é…! E aos que por cá já passaram, é um re-convite!

Esta página leva uma dedicatória especial para os avós que se interessam profundamente, que se preocupam, apesar de estarem longe. Os avós, que quando me ligam tentam transmitir o máximo de calor, de conforto, de amor, no mínimo de segundos possível: «Então, Mariana, tudo bem, por aí? Muito frio? Um beijinho muito grande!». Sorrio, sinto-me abraçada, aconchegada no «jagalhinho» das mantas da sala dos avós. Os avós, que eu gostava tanto de receber aqui. Infelizmente, parece-me improvável… Avós, é para vós, vejam, perscrutem, sintam-se aqui em casa. Comigo a guiar-vos.

A introdução já vai longa… Agora, é só clicar no mapa alí em baixo e deixar correr!

Quanto a este blog o seu futuro é ainda incerto…

(Tia Isabel: guarde um bocadinho do seu riso ao ver isto para me mostrar quando nos encontrarmos!
Mano Pedro: estou-te a dever um enoooooooorme beijinho pela ajuda técnica)

Ah! Só uma palavrinha aos que, algum dia, deixei pendurados no MSN: desculpas. Esta era a razão…