terça-feira, 13 de novembro de 2007

Singularidades de uma banana

Às vezes a natureza engana.
Veja-se o caso da banana:
Fruto de fálica feição,
Mas de tão casta constituição.

Vinda da herbácea bananeira,
A banana é filha de mãe solteira:
Seus negros salpicos
São óvulos solitários e pudicos
Que de tanto esperar
A chegada de um par
Se cansaram de acreditar.
Decidiram então de negro se trajar
Para sua morte festejar.
Ficarão para sempre óvulos por fecundar.
De uma gravidez imaginária,
Surgirá então esta fruta lendária.

Da família das Partenocárpicas fazendo parte,
Em seu grego nome reside toda a sua arte:
De Partenos como virgem,
De Carpe como fruta.
E assim se vê bem,
A incomparável batuta
Que a natureza tem.


(Donde se tira que a canção: El único fruto del amor es la banana, es la banana, está errada: pobre fruto tão imaculado, tão distante de tais tormentas terrenas!)

sábado, 10 de novembro de 2007

Quentes e boas

De há uns tempos para cá, um senhor instalou-se à saída do metro, na rua da Alfacinha, a vender castanhas assadas. Pois é, em Paris também as há, quentes e boas, estaladiças e bem cheirosas. Bom, está na hora, é hoje.

- Un sachet de châtaignes, s’il vous plaît.

Que delícia. Aí vai a Alfacinha, sou Alfacinha, não sou?, feliz da vida, com o cone de papel de jornal a queimar as suas mãos. Há quanto tempo não sentia aquele saborzinho! Há quanto tempo não passeava pela rua, descascando castanhas com todo o carinho e cuidado, concentradíssima, nada mais ocupa o seu pensamento, inspirando o fumo que se escapa de entre as rugas da castanha, sempre com um olho no dito cone, não vá uma das outras dar às de Vila Diogo. Pelo caminho, vai deixando um rasto de cascas redondinhas e ainda quentes.

Só faltava o Verão de São Martinho.