sábado, 23 de junho de 2007

Amanhã...

... a Alfacinha parte com a sua turminha para Porquerolles: ilha francesa na Côte d'Azur, reserva natural, que é como quem diz paraíso. Lá, vão ver florzinhas, calhaus, peixinhos, passarinhos e, espero, o sol.


sábado, 16 de junho de 2007

A Alfacinha e o mel

Com um beijinho para o meu primo-Frederico-o-tripeiro, maior apreciador de mel que conheço.
Numa das suas tardes solitárias de sábado, em que se sente um verdadeiro vegetal, a Alfacinha decide tomar um chá das cinco.
Água a ferver, chávena, bule, pires (sim porque, apesar de não saber pôr pires no plural, a Alfacinha tem pires(es?) em casa) e a saqueta de chá: framboesa com maracujá. Maravilha. Néctar dos deuses. E mal o vapor do chá começa a subir, a Alfacinha evapora-se com ele até aos céus.
Mas chá das cinco não é chá das cinco sem um acompanhamentozinho. Eis que a Alfacinha tem A ideia: tostas com mel. Mal sabia ela que estava prestes a começar uma luta árdua com o seu 'Miel d'oranger d'Espagne'.
Mergulha a colher no frasco, levanta a colher... fugiu. A Alfacinha não desiste. Mergulha a colher, levanta a colher e toca a rodá-la. Uma, duas, três vezes, mas o mel... nem vê-lo. Terceira tentativa. Anda cá meu malandro, desta não me escapas tu. Mudança de táctica: desta vez, a Alfacinha levá-lo-á imediatamente para cima da tosta e dar-se-á ao luxo de o ver deitar-se às curvinhas, devagarinho, por cima. Mas o mel, esse grande rebelde, foi mais rápido e chorou por cima da mesa. Naquele milímetro quadrado que separava o frasco da tosta. Foi precisamente aí. Contra todas as probabilidades. Quê, alguma vez o mel respeita probabilidades? Não, o mel é tão rebelde, tão rebelde que até da tosta consegue escorregar: pelos lados, por cima dos dedos da Alfacinha e por aqueles buraquinhos imperceptíveis da dita tosta. A Alfacinha besunta-se toda, os seus dedos ficam peganhentos, nhanhosos. Mas sabe-lhe tão bem!
Agora, com licença, que o chá está a arrefecer.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Eu sapateio, tu sapateias, a Alfacinha sapateia

Lá dentro, a música pára. Palmas. Um som anuncia novos artistas e uma porta abre-se. O professor, num sussurro nervoso para o grupo: É a vossa vez, vamos lá, divirtam-se. E sobe o grupinho para o palco, às escuras, com passinhos hesitantes, coração nas mãos, mãos trémulas e trémulos joelhos. Estarei bem no meu lugar? Mais para o lado, mais para trás, estou bem aqui. Olho para a frente, sorrio, costas direitas… Este chão está escorregadio, manter a calma… As luzes acendem-se. A música começa, aquela que ouviram quinhentas vezes, até à exaustão, que conhecem de cor e salteado. Chegam as duas badaladas, é agora, c’est parti. Stomp, brush, step, stomp, brush, hill, stomp. Não me vou enganar, não vou cair. Sente-se a Alfacinha embalada pelo ambiente, os seus pés a crepitar em uníssono com os outros 19 pares de pés, numa dança de sons e silêncios. Experimenta um olhar para a sala, Ai tanta gente! Conheço aqueles dois na primeira fila! Sorriso. Step, hill, hill, brush, step, hill, step, hill. Não me posso desconcentrar. Lá continua com o grupo, de travões às quatro rodas para não patinar, aos saltinhos pelo palco fora, a distribuir estalinhos de metal na madeira, a dar aos pés, a dar à sola, no sentido literal, entenda-se! Os dois minutos de emoção estão a chegar ao fim, a música pára, e com ela calam-se os pés. Apaga-se a luz. Já está.




quarta-feira, 6 de junho de 2007

Meu querido frigorífico

Sabes que eu te adoro, não sabes? A tua portinha amarela, o teu metro de altura, os teus ímanes decorativos, o teu hálito fresco… Isto tudo apesar de teres uma prateleira partida e de a tua porta do congelador cair de cada vez que te abro (repara que até veio um cirurgião aplicar-te um parafuso na articulação, mas mesmo assim… fractura profunda. Sinto muito.).
Invocando desta forma a nossa amizade (sei bem que recente, mas mesmo assim estreita e profunda), pergunto: porquê? Porque te esvaziaste tu nestes últimos dias? Porque só me apresentas um frasco de mostarda, três iogurtes e uns raminhos de brócolos? Porquê? Qual a razão de tal silêncio, de tal despojamento? Porque me deixas tu neste jejum angustiante, tendo de me alimentar a sopas de pacote? Onde é que errei? Disse alguma coisa inconveniente? Terei batido a tua porta com demasiada força? Ter-te-ei porventura deixado aberto durante demasiado tempo? Ter-me-ei descuidado na frequência dos teus banhos? Não gostas do champô que te aplico?
Se fiz alguma coisa errada, acredita que não foi com essa intenção. Aqui ficam as minhas desculpas.
Se eu fosse a Floribella invocava as fadinhas dos frigoríficos para intercederem, junto de ti, a meu favor.
Façamos as pazes, frigorífico do meu coração. Pela tua mãezinha. Antes que eu tenha enjoado todas as sopas do supermercado.

domingo, 3 de junho de 2007

A Alfacinha e o reencontro com os Contes de la Rue Broca


Estava a Alfacinha a passar em frente a uma estante de livros em casa dos seus estimados vizinhos, quando vê a lombada branca com letras pretas que marcou a sua infância: «Les contes de la Rue Broca». Fanny, emprestas-mo…? Regressou a casa com o livro entre as mãos, aos tremeliques, como se trouxesse um tesouro. Mas é um tesouro!
Este é o livro responsável pela colecção de bruxas da Alfacinha, que pairam penduradas no seu quarto, ainda pairam, não pairam, mãe? Não voaram para longe? Não me abandonaram, pois não, mãe? Diz-lhes que voo para Lisboa em breve, que também tenho saudades delas e que quando voltar faço-lhes muitos miminhos. Era a Sorcière de la Rue Mouffetard que preenchia o seu imaginário. Sorcière, sorcière, prends garde à ton… Era por causa deste livro que de cada vez que vinha a Paris pedia, muito séria, podemos ir à Rue Mouffetard?
E agora, com a emoção dos seus 10 anos intacta, prepara-se para mergulhar de novo no mundo da bruxa, do casal de meias, da boneca Scoubidou qui sait tout, da batata amiga da guitarra… Estou pronta. Abre o livro, começa a virar as páginas poeirentas, de um livro há muito guardado numa estante, de um livro há muito arrumado nas prateleiras da memória, e com um sorriso começa a ler…
«As crianças compreendem tudo. Se fossem os únicos leitores deste livro, nunca me teria lembrado de escrever este prefácio. Mas desconfio que estes contos serão lidos por pessoas crescidas. Por isso, acho que devo dar algumas explicações.»
Começa bem… Espero não ser já demasiado velha!
E surgiu então a imagem daquele dia em que a Alfacinha foi à biblioteca da Primária, depois de anos e anos sem lá entrar, lembras-te Marta?. Foi uma sensação estranhíssima, desconcertante, quase surrealista, de Querida,-ampliei-os-miúdos: não estava na escala, não se enquadrava no cenário! Não cabia nas cadeiras, as mesas chegavam-lhe aos joelhos, a mezzanine, digna de Romeus e Julietas na altura, dava-lhe agora pelos ombros, tenho de me baixar para poder passar… E o anfiteatro, que parecia gigantesco, um verdadeiro coliseu, afinal não passava de meia dúzia de degraus em meio círculo…
Está qualquer coisa a mexer no armário atrás de mim. Espero que não seja a bruxa! De qualquer maneira tenho as palavras mágicas:
Sorcière, sorcière, prends garde à ton derrière !





sexta-feira, 1 de junho de 2007

Assim o cérebro da Alfacinha

O dito deveria estar assim:




Mas a Alfacinha sente-o assim:



E quase assim:




Mas de tanto empurrar a tampa craneana, o cérebro foi ficando em pudim, assim:






E se o processo continuar vai ficar em puré, assim:





E depois, continua a aquecer, até à explosão final, assim: