- É sim.
Senta-se a Alfacinha muito a medo na cadeira. Esta inclina-se para trás, vou escorregar daqui para fora!, até que aparece ecrã de computador onde surgem fogos de artifício, praias maravilhosas, florestas frondosas, isto deve ser irónico…
Começa-se a equipar o carniceiro, luvas, máscara, óculos, e todos os instrumentos de tortura. É hora de fechar os olhos. Abre então a boca a paciente, muito a medo…
- Está nervosa?
Boa piada, amigo!
E lá começa a tortura. Atira-se ao maxilar da Alfacinha, vai com calminha, espeta para lá agulhas fininhas e compridas, isto dói, mas é para não doer depois, isto dói, mas é para não doer depois, isto dói… E de repente, mais nada.
- Sente alguma coisa aqui?
Abana a cabeça a Alfacinha. Hey, qu’é do meu lábio?
Foi a luz verde para o carniceiro voltar a atacar. Vai à carga desta vez com instrumentos de corte, grrr, este barulhinho foi a minha gengiva a… vá, é melhor não pensar nos detalhes sórdidos… Prossegue com instrumentos cuja forma a Alfacinha desconhece, de olhos bem fechados, de olhos bem fechados, mas cuja função imagina, ele está-me a alavancar o dente. Vá, penso noutra coisa. De que cor é a cadeira do dentista?
- Uma compressa, Paula.
Devo-me estar a esvaziar do meu sangue… Ora bem, quantos são 34x48?... Vou antes contar carneiros: 1 carneirinho, 2 carneirinhos… De que cor é a cadeira do dentista?
- Paula, dê-me o 32.
O que será isto agora? Um instrumento de emergência, para quando fazem algum disparate muito grande? Vá, penso noutra coisa…Será que amanhã vai estar sol? De que cor é a cadeira do dentista?
E continua a tortura. Anda de um lado para o outro o dentista, puxa daqui, empurra dali, vou sair daqui toda deformada, acredita que se me esticas mais o lábio, amigo, ele rasga; Corporación Dermoestética, me aguarde! Vá, penso noutra coisa…Que horas serão? Cheira-me que vou fazer uma convalescença de reconciliação com a Floribella. De que cor é a cadeira do dentista?
E de repente, acalma-se. Então, então?
- Fio, Paula.
Olha este agora armado em costureiro…
- Já está.
Abre os olhos a Alfacinha muito a medo. Até consegui fazer remelas, mas não foi de dormir, de certeza… Tenta sorrir, só meio lábio responde. Tenta levantar-se…
- Pode ficar mais um bocadinho!
Tenta dizer obrigada, se calhar é melhor não, ou ainda deixo cair o maxilar.
Por fim, lá se vai embora, passou-bem ao dentista, como é possível gostar-se de um dentista?, e sai da sala de torturas.
Bolas, esqueci-me de ver de que cor era a cadeira!
2 comentários:
Pense, alfacinha, pense quão mais leves nos sentimos sem juízo, mm q doa, ao arrancar ...
PS ao último comentário:
A côr da cadeira: não se rale, o + certo é já ter mudado até ir arrancar o próximo ciso!
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