sexta-feira, 7 de março de 2008

O Moulin Rouge chegou à Opéra Garnier

Depreeeeeessa!!
Com umas quantas cotoveladas e atropelos, as duas lá se conseguiram infiltrar na fila para os bilhetes de última hora.
E como duas princesas, subiram as escadarias da Opéra Garnier, de bilhete em punho.
- Bonsoir Mesdemoiselles, dernière porte au fond.
De princesas passaram logo a Gatas Borralheiras, quando olharam para os seus jeans e se viram entrar para a plateia…
Incomodaram as senhoras perfumadas e os senhores de fatinho com os seus sacos de écolières cheios de livros, até se instalarem nos seus lugares, incrédulas: segunda fila, atrás do maestro. Perfeito.
O espectáculo começou: The Rake’s Progress, de Stravinski.
E não é que, a páginas tantas, o palco da Opéra Garnier se transformou no palco de um bordel… As duas, que esperavam vestidos de cauda e reflexos de tafetá, viram surgir em cena meninas e meninos semi-nus, numa lingerie cintilante, ligas rendadas, perucas vermelhas e piercings nos mamilos, são mesmo bons os lugares da segunda fila!. Meninas e meninos já pouco vestidos foram-se despindo, enquanto trocavam gestos íntimos… E para alegrar um pouco isto tudo, umas moças enfeitadas de penas e brilhantes dançavam, de peito ao léu, levantando pernas e agitando braços.
Espera, não devo estar a ver bem, ali ao canto estão dois rapazes de fio dental no rabiosque convencidos que conseguem procriar! Mas estava a ver bem sim senhora! O encenador deve ter querido ser moderno e politicamente correcto! Em contrapartida, quem não estava a ver nada eram as suas vizinhas perfumadas, que liam fixamente as legendas lá bem no alto… Ainda ficam com um torcicolo, deviam olhar para a frente, vejam: quanta cor, quanto movimento!
E a cena durou. Nada de espirros, nada de tosses, nada de cadeiras a ranger. A Opéra Garnier gelou em frente a uma gigantesca orgia explícita e provocadora.
Quando as luzes se acenderam, as duas infiltras ainda surpresas estavam mortas de riso, a olhar para a plateia: média de idades nos 70 anos, casacos de peles e bengalas… Até havia um senhor vestido à século XVII: colete, lenço ao pescoço, calças pelos joelhos e collants, cabelo branco aos caracóis apanhado atrás, só faltava falar em verso… O que pensará esta gente toda? As duas bem aguçaram os ouvidos, mas as únicas palavras que ouviram foram «que cantores extraordinários», «a música é magnífica» …
A segunda parte recomeçou, quase ninguém deixara a sala. Depois da tempestade: o sol, tudo voltou aos quadros habituais.
É de crer que todos regressaram a casa tranquilizados com a moral final:
“For idle hands and hearts and minds, the Devil finds a work to do.”
E um grande aplauso encerrou o espectáculo.

Mas fica a dúvida: será que os espectadores sabiam ao que vinham?

1 comentário:

Anónimo disse...

Oh, oh, oh, oh, oh Alfacinha, que pergunta! Nem parece de uma écolière de 20 anos!

Paula Marques