domingo, 27 de maio de 2007

A Alfacinha acabou de ver o Titanic na televisão mas…

... dobrado em francês! Que emoção, ouvir o Leonardo DiCaprio aliás Jacques gritar «Je suis le roi du monde!!!!» E para grande espanto, não meteram uma cunha à Céline Dion para cantar a famosa música em francês!
Estas vésperas-de-dias-sem-aulas estão-me a fazer mal… Depois da Eurovisão, o Titanic…



15 segundos de «entalamento» e um deus ex-machina ou deus in-metro

Com mil macacos, estou atrasada.
Aí vai a Alfacinha, num andamento apressado, atravessei no vermelho, paciência, passa a Carte Imagin’R no detector de Cartes Imagine’R, adoro este pliiiiim, e continua a sua marcha nos corredores do metro. Ou me engano muito ou ele está a chegar. Corre a Alfacinha, desce as escadas aos trambolhões, só mais três passinhos e estou lá dentro. Um passo, dois passos, driiiiiing, oh não as portas estão-se a fechar, é agora ou nunca. Atira-se epicamente a Alfacinha para o meio das ditas já em movimento. Ai o meu braço, estou entalada, ainda bem que isto não é uma guilhotina… Com uma força sobrenatural consegue entrar na carruagem, mas o seu saco, esse, fica encravado na porta. Só me faltava mais esta. Agarra-se a ele, puxa, vá lá, anda cá saquinho, não te vou abandonar mas mexe-te se faz favor… O saco, nada. Nicles. Zero. Nem um centímetro. E o metro, imóvel, ali especado à espera que a porta se feche. Isto está bonito! E eis que dois braços grandes, fortes e atléticos aparecem por cima da cabeça da Alfacinha, contraem-se e fazem recuar as malditas portas. Uau, que músculos… A Alfacinha vira-se, sã e salva, e olha para o seu salvador. Ainda por cima é giro! Sai-lhe um grande e sincero merci, enquanto vai corando, ao imaginar a figura que fez…


quarta-feira, 23 de maio de 2007

A espera da Alfacinha

A praça de Saint Michel transforma-se totalmente entre as 7 e as 8: torna-se o ponto de encontro de toda a gente que tem programa para a noite. O mais prático, o mais simples, o mais central. Enche-se então a praça de pessoas solitárias de mãos nos bolsos, com o olhar saltitante, à procura do respectivo, à procura de um lugar onde se encostar para não ficar ali, desconfortavelmente, de pé, tentando não estar no meio da passagem, mas permanecendo visível ao mesmo tempo, tentando escapar aos japoneses fotógrafos que apontam para todo o lado, tentando parecer natural, preparando o clássico «tinha acabado de chegar» para quando aparecer a tão esperada companhia. O melhor é mesmo arranjar um espacinho onde estacionar, contra um poste de iluminação, contra uma parede, ou melhor ainda sentado ao pé da fonte, naquele ângulo estratégico que varia com o vento em que a água do repuxo não é desviada.
E hoje, lá está a Alfacinha, no meio da praça, à espera, de Pariscope nas mãos, acessório que vai folheando para dar um ar de estava-ocupada-não-faz-mal-ter-esperado-este-bocadinho. Dá uns passinhos, pára, olha em volta, troca de perna de apoio, olha em volta, mais uns passinhos, pára. Nada.
Toca o telefone da senhora do lado. A dita atira-se à sua carteira, procura em todos os bolsos o aparelho sem o encontrar, claro, enquanto o olhar percorre as redondezas, na esperança que a chamada coincida com a chegada da sua companhia. Minha senhora: acha que se ele(a) estivesse aqui, a vê-la, lhe estava a telefonar…?
À esquerda da Alfacinha, passos apressados e decididos na sua direcção. Volta a cabeça, preparando já um sorriso, feliz por ser a próxima a ir embora. Mas não, não era para ela. Ora bolas.
Mesmo à sua frente, um senhor anda às voltinhas, mãos nos bolsos, mãos na cintura, todo chique, aposto que tem um encontro romântico, braços cruzados, olhares à roda, suspiros de impaciência, vê as horas. Mãos nos bolsos, mais uma voltinha, espreita para a saída do metro, nada, braços cruzados. Vê as horas. Ainda nada.
Mariana?
Ah, é a minha vez.


domingo, 20 de maio de 2007

Noite dos museus em Versailles

19h16: comboio para Versailles. Vamos a isso. E lá estão as cinco meninas, pocaterra pocaterra, rumo ao Palácio.
Quando chegam ao dito, vêem uma multidão de gente, bem arrumadinha, em filinhas serpenteantes pelo pátio fora. Não vamos ficar aqui, pois não? Não. Decidem então ir para o Lago dos Suíços. Toalhinha aos quadrados, sanduíches, fruta, sumos: pic-nic na relva. Silêncio total, paz. Estes patos estão a pensar confraternizar connosco? Uma dezena de patos começa a aproximar-se, a rodeá-las, isto será uma estratégia de ataque aos nossos mantimentos? Não posso fugir, estou descalça… E foi aí que, mostrando a superioridade do Homem, as cinco meninas enxotaram os tão temíveis Anatídeos, não sem alguns estridentes gritos de guerra. Nós não somos histéricas, apenas queremos proteger aquilo que é nosso... Vitoriosas, prosseguiram o repasto e puseram-se na jogatina. Reis, rainhas e valetes, na toalha aos quadrados, batalhas, vitórias e derrotas com muitos risos no ar. Mas a implacável noite foi caindo, a humidade, e uma ameaça silenciosa: melgas, mosquitos, bicharocos saltitantes verde florescente, formigas aventureiras… E se fôssemos tentar entrar no Palácio…? Uma horita de paciência e às 23h30, subiam orgulhosas as grandes escadarias.
Lá dentro, um fundo de música clássica, e choros de miúdos cheios de sono, acompanhava a visita. Nas paredes de veludo, projectavam imagens, deixa-me cá esticar o pescoço, bicos de pés, não vejo nada…, de reis, rainhas e valetes. Como já era noite avançada, as salas tinham uma luz bem especial, luz da lua, luz amarelada de lustres, dos flashes que disparavam a torto e a direito, e numa janela surgiu um fogo de artifício. No quarto da rainha, exibiam vestidos da época, são mínimos, serão de criança? E na galeria dos espelhos, distribuíam-se máscaras para ver a três dimensões imagens virtuais de um baile, ora com máscara… sem máscara… com máscara… não vejo diferença… E lá foram as meninas, deambulando pelos corredores magníficos, pelas salas majestosas, aos encontrões, aos empurrões, com pisadelas, cotoveladas, pensando no ambiente de época, não sei como era na altura, mas agora tresanda a transpiração, imaginando os frufrus dos vestidos, neste caso dos fatos de treino, dos kispos, dos ténis… E ao sair, esperaram o coche, com cavalinhos e um elegante cocheiro, mas só chegou um Noctilien, autocarro nocturno, com polícia lá dentro e tudo.












sexta-feira, 18 de maio de 2007

A Alfacinha e as condições meteorológicas em Paris.

Há uns tempos atrás, a Alfacinha viu a Primavera: as florzinhas, os passarinhos, o solzinho, o céu azulinho, etc. Porém tudo isto de um olhar embaciado. Os olhos da Alfacinha foram atacados por nuvens de pólenes esvoaçantes e agressivos. A Alfacinha passou uns dias agradáveis, a esfregar os olhos e a espirrar.

Mas o tempo mudou desde então: chuva, frio, estás-te a mostrar, Paris, não é? E não é que hoje, ao abrir as portadas do seu quarto, vê um sol radioso! Voltaste! E veste-se para a ocasião.
Foi hoje precisamente que a Alfacinha apanhou a maior chuvada da sua vida. Estava ela a sair da biblioteca do Beaubourg, eram oito da noite, parou neste ângulo:

e viu começar a cair uma chuva torrencial que de repente tapou aqueles prédios ali à frente. Oh não, não tenho guarda-chuva. A Alfacinha olhou para os seus pés: sandalinhas de tecido. Porreiro. Mas não se deixou abalar e decidiu enfrentar a tempestade. Mal pôs um pé fora do abrigo, a chuva duplicou, mas porque é que isto me acontece sempre??, e uma trovoada amiga iluminou o seu caminho, só me faltava mais esta, raios e coriscos. E então, pernas p’ra que vos quero, a Alfacinha desatou a correr. Foi ficando cada vez mais pesada, as calças a colarem às pernas, a roupa a mudar de cor, o cabelo bem encharcado, e as ditas sandálias… flop flop a cada passo. A Alfacinha chega enfim à estação de metro, regadinha até aos ossos. Aí, diverte-se a meter medo às pessoas que vê sequinhas, vais ver vais, quando saíres, mas não acha piada nenhuma às que vê sacudir o guarda-chuva com ar de «ai-que-maçada». Como é que vocês previram?? Estava céu azul hoje de manhã!!

A Alfacinha teve a certeza: a fúria dos elementos é bem melhor vista de uma janela.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

A Alfacinha ouvindo a Rádio Alfa


Que horas serão? 10h30. Ai que bom. E vira-se para o outro lado a Alfacinha. Hoje é feriado, que é como quem diz: preguiçinha na cama. Se estivesse em Lisboa, ia ver a Praça da Alegria… Que saudades do Jorge Gabriel! Pois é, a Alfacinha sempre adorou ver o desfile de música popular, sobretudo da música pimba, e o passatempo das avós, momento alto da manhã televisiva. Mas aqui, não há Praça da Alegria. Há uns equivalentes franceses, também bem pirosos, mas pirosos à francesa. Sim porque aqui também há cantores muito… como dizer… aqui fica um exemplo:













À esquerda, o inconfundível José Cid. À direita, Gilbert Montagné, cantor francês cego que toca piano e se agita no seu banco, fazendo movimentos de tronco para trás e para a frente. Serão gémeos separados à nascença?
Mas aqueles cantores tão genuínos, de cabelo lambido, perna aberta em calça justa e joelhito a dar a dar, camisa florida deixando aparecer os tão universalmente viris pêlos do peito, e com aquele olhar romântico-trágico para as câmaras… aquele olhar pronto a derrubar, pronto a derreter qualquer fêmea do lado de lá, enquanto vai cantando com alma e coração coisas profundas como «Porque me deixaaaaaaaste????!!!!!»… os verdadeiros, só os conhece em Portugal.
Eureka! Vou ouvir a rádio alfa. «Ouçamos agora a bonita canção «Ai Maria», interpretada por Cristina Branco, que nos foi pedida por…» Maravilha. E lá está a Alfacinha, embalada pelo português, pelo faduncho, pelas guitarradas e variações de voz. Não acredito: publicidade em português! «Aplicamos janelas, portas, azulejos…»
Desde que aterrou na França, em França se faz favor, em França, então, a Alfacinha tornou-se muito mais patriótica. Portugal? É um país fantástico. Está sempre sol, uma temperatura sempre amena, sempre agradável, tem um mar espantoso, as pessoas são muito simpáticas, Lisboa é uma cidade maravilhosa… Sem medir exageros. E desde que o seu coração palpitou quando, em plena Eurovisão, ouviu o apresentador francês dizer «E um ólá á tôdôch óch pórrtuguêsech dê Frránçá!» nunca mais foi a mesma. Uaaaa que emoção! (Sim, de facto, a Alfacinha viu a Eurovisão… «E os nossos 8 pontos vão para…»)
«Passemos à actualidade desportiva: Filipe Teixeira, ao telefone para a Rádio Alfa, falou-nos do seu futuro na Académica…» Mais cedo ou mais tarde tinha de chegar o futebol. «Vamos ouvir agora Flávio Meireles do Vitória de Guimarães…»
Começa então um Fandango Ribatejano. E enquanto readormece a Alfacinha, sonha-se de punhos nas ancas, aos saltinhos…



domingo, 13 de maio de 2007

A Alfacinha entre os Bretões.

É domingo, está sol e há uma festa bretã ao pé de casa. Vamos lá, Fanny?
E lá vão elas.
Já com um maravilhoso crepe de nutella nas mãos (estaladiço, quentinho… ai que bom, faz bem à alma), as duas meninas vão ver o bailarico. Uma gaita-de-foles com a sua estridência e charme naturais dá o ritmo às danças. De braço dado, o círculo de bretões sorridentes ia rodando, rodando… Acaba a música, palmas. E se nos infiltrássemos? Meu dito meu feito. Sem saber um passo de danças bretãs, metem-se na roda. Mal começa a música, um mindinho da Alfacinha é raptado por uma velhinha frenética. Já está, agora toca a andar, vou-me deixar ir. Ora um saltinho para o lado, mais outro, fico no lugar, outra vez… E lá estão as duas na roda, divertidas, de mindinhos no ar, sem conseguir parar de rir. Bolas pisei alguém. Não faz mal, deixa lá que alguém já te pisa para compensar, o que interessa é acompanhar a dança, não largar os mindinhos dos vizinhos, um saltinho, dois saltinhos, um dois três, dois dois três, três dois três e recomeça, um dois três… A roda estica, aperta, encrava com outras rodas, pronto, já fui pisada, mas continua. Bom, já dei cinco voltas à praceta, já sei de cor a música, estou a ficar tonta, hipnotizada, já era tempo de mudar, não? Não. Enquanto o senhor da gaita-de-foles tiver fôlego, a música continua. Entraste, agora aguentas. Vê-se a Alfacinha numa encruzilhada: a dança não pára enquanto a música não parar, a música não pára enquanto o gaiteiro tiver fôlego e por isso quando chega ao fim do refrão… recomeça! Pescadinha de rabo na boca. Gaita, é caso para o dizer! Vá, manter o ritmo, mindinhos firmes, um saltinho, dois saltinhos…
E parou. A velhinha está radiante, as duas pategas também.
Faz bem dar um pezinho de dança de vez em quando.




sábado, 12 de maio de 2007

A Alfacinha descobriu uma vantagem de estar no estrangeiro!

Já posso votar para Portugal na Eurovisão, que sorte a minha...!
Bem, isto quando conseguirem passar à final...

quinta-feira, 10 de maio de 2007

A Alfacinha, a biblioteca e a química orgânica ou A Alfacinha, a biblioteca e um curto-circuito neuronal.


Vai a Alfacinha para a biblioteca, pronta para engolir tudo sobre química orgânica. Instala-se, estojo em frente, garrafa de água à direita, lição à esquerda e rascunho ao centro. Abre o dossier, começa a folhear… Ao princípio ainda vai entrando, reacções de oxido-redução, condensações, acetilações… Um momento, 30 segundos para respirar. Na cabeça da Alfacinha tudo se começa a misturar. Mais 30 segundos, por favor.
À sua direita, um futuro médico, a estudar hematologia. À sua frente… não dá para ver. Alguém escondido atrás de um computador. À sua esquerda, uma futura arquitecta, para quem o silêncio da biblioteca não chega e por isso tapa os ouvidos com umas borrachas cor-de-laranja. A Alfacinha levanta um pouco o olhar e, aí, vê o seu ídolo, já por ela topado em outras ocasiões. Não pode deixar de o observar a Alfacinha. Um verdadeiro dandy. Casaco em abas de grilo, colete de cetim com voluptuosas cornucópias, calças às riscas impecavelmente cortadas, gravatinha de cetim cor-de-rosa carinhosamente enroladinha e presa com uma magnífica pregadeira e botões de punho a condizer. Para além disso, traz desenhado na cara um encaracolado bigode. O toque final. A matar. Com a cabeça romanticamente pousada numa mão, enquanto a outra segura um livro, o herói da Alfacinha vai saboreando umas bolachinhas Petit Écolier. Tão imponente e tão frágil ao mesmo tempo! Na mesa tem pousada a sua esplendorosa bengala, uma maleta Louis Vuitton e uma cartola bege. Eis que se levanta. O coração da Alfacinha dispara. Ela começa a inspirar, a inspirar, a inspirar, passa lá oh amigo!, para testar o perfume. Inebriante. Dele só fica esse volátil rasto, enquanto a sua figura alta se afasta ao longe. Suspiro.
Raios, perdi a minha animação. A Alfacinha encontra-se de novo em tête-à-tête com a química orgânica. Um gole de água e 10 segundos para respirar. Volta a encarar a folha. O hemiacetal continua a olhar para ela com ar de gozo. Ela olha para ele com ar de desespero. Não te compreendo. Como passas para acetal? Fala comigo… Mas ele, nada. Deixa-se ficar, no alto da sua imobilidade, da sua incontestabilidade. Ele é ele, mais ninguém. Ele dá ele, porque sim.
«Nous vous rappelons qu’il est interdit de boire ou de manger à l’intérieur de la bibliothèque.»
Sim senhora, é a quinta vez que mo dizes esta tarde. Não me queres antes ajudar aqui na química orgânica ? A Alfacinha olha para o relógio. Que injustiça: enquanto ela não avançou de uma página, os ponteiros deram quase uma volta inteira. Está bem abelha. Mais um gole de água. Vira a página a Alfacinha. Sabes o que te digo, oh acetal? Batatas. Não gosto de ti.
«Les vols sont fréquents à l’intérieur de la bibliothèque, nous vous recommandons de surveiller vos affaires personnelles et, dans la mesure du possible, de laisser vos sacs devant vous, merci. Pickpockets are operating in the library. Please watch your personal belongings at all time and do not leave your bags on the floor, thank you.»
A senhora também fala inglês. Mas será uma estratégia para assustar os não francófonos? É que traduzir «os roubos são frequentes na biblioteca» por «há carteiristas em acção» não deixa de ser curioso… Só dá vontade de agarrar bem as suas coisinhas, e começar a olhar à volta para descobrir onde andarão eles. Será que este caramelo aqui ao meu lado… será que a história da hematologia não é só para disfarçar…
A Alfacinha procura outras coisas com que se distrair, eu??, inconscientemente, vá. Lá estão elas, as temíveis moléculas. São 21h30, a Alfacinha não jantou, já não tem água na garrafa, tem a cabeça a explodir. Digam-lhe para se ir embora e mandar à fava a química orgânica. Se faz favor.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Ponto final, parágrafo.




Acabou-se o ambiente destas duas últimas semanas. Acabaram-se os panfletos no metro, Sarko? Não obrigada, toca a olhar para outro lado…, acabaram-se as discussões acesas, onde cada um dos lados se agarra com unhas e dentes às suas convicções. Acabaram-se os autocolantes nos degraus da escolinha da Alfacinha, Les jeunes pour Sego, que desapareciam misteriosamente de um dia para o outro. Deixar-se-ão de ouvir a cada esquina as dissilábicas palavras «Sego», «Sarko». Coisa à qual a Alfacinha reage, reagia…, aguçando os ouvidos para saber o que se diz, o que se dizia… Não se falava noutra coisa. Os comentários, as indirectas, as piadas, os trocadilhos, tudo girou em torno de duas pessoas.

Impossível passar ao lado. Impossível não tomar partido. Impossível não se empenhar. Uma cidade dividida ao meio. Duas metades activas, mobilizadas, em confronto em cada café, em cada rua. Por todo o lado amigos discutem, discutiam. De longe vêem-se os gestos, vêem-se as atitudes, o tom de voz. Não há que enganar.
Na turma da Alfacinha, as discussões eram diárias, intensas. Violentas mas argumentadas. A cada dia uma coisa nova. Os jornais circulavam, as opiniões surgiam e com elas os debates.

Duas semanas que ficarão na memória da Alfacinha: um ambiente contagiante, em que cada um se sente cidadão, se sente responsável pela escolha que tem a fazer e por isso expõe as suas ideias, confronta-as, defende-as. Com entusiasmo.


Fim deste movimento. Ponto final, parágrafo.

Espera a Alfacinha o que aí vem.


sábado, 5 de maio de 2007

A Alfacinha não gosta deste senhor.



O senhor desculpe, senhor, mas eu não o aprecio muito. Sabe, senhor, o senhor mete-me medo. Há qualquer coisa no seu olhar que me dá arrepios. Talvez também as suas orelhas, orelhinhas de um Dumbo elfo, talvez isso conte... Talvez ainda por causa daquilo que diz, estou eu agora a pensar. Sim, talvez seja por causa disso também. De facto, quando diz que a delinquência é uma questão genética, convenhamos, eu sou de biologia, não é, por isso compreende que esta questão não deixa de me tocar. Talvez o senhor seja um entendido, mas de facto nunca falámos nas aulas de tais genes… Se calhar também é a sua maneira de falar, senhor, meio irónica, meio desprendida que me irrita… E sabe, há certas coisas que diz que soam a falso na sua boca. E a sua atracção pela polícia, o facto de estar escrito explicitamente no seu programa «desenvolvimento de novas armas, anti mísseis», compreende, eu sou mais peace and love…
Ah e já agora, evite pôr-se à frente de fundos vermelhos como esse. Fica-lhe francamente mal.
Acho que o meu único ponto em comum consigo é mesmo esse sinal por baixo da boca coisa que, tenho de sublinhar, é um puro acaso. Só que o meu é do lado esquerdo, o seu do lado direito.
Lamento, mas não te gramo. Mesmo nada.

Mas o Sarko é um homem honesto...!